A missa…

Andei às ruas querendo o cheiro das páginas de uma livraria. Tinha um destino escrito ao sair de casa, um receio deixado, um anseio por tocar páginas e lombas. Uma noite anterior projetada na ponta da lanterna à dimensão do dia seguinte.Trabalho naquela manhã era apoiar a máscara nas orelhas, levar as luvas no bolso,…

Continue lendo

Inspiração…

Agendei horário para ficar com a chuva, escutá-la… Não é verdade, quando veio previsível e improvável eu apaguei a luz e fui para ela, pedi se podia ficar… Fiquei na luz escura, o estado natural…Enquanto chove não quero outra coisa senão aquilo que a chuva conta, a contação da chuva, a história entre histórias de…

Continue lendo

Como um dia a noite…

Recolheram todas as coisas, levaram os montes, os tombos, os entulhos, as folhas, os pesos, as medidas, o depois e o horizonte. Levaram o sangue e no lugar deixaram o aço incalculavelmente pesado, levaram a pulsação e ao posto do ritmo ficou a dor apertada, cada vez mais apertada em coisa qualquer.Amanhecera e não havia…

Continue lendo

Deixa estar…

Era uma estrela perdida no céu chorando a chuva da noite. Uma estrela piscando firmamento, o firmamento desconcertado na manhã do sonho maduro. Contou nos dedos o cálculo, o passado, o tempo corrido, o vento correndo desde o último choro. Não há memória, escapava a precisão visualizável na condição motora dos dedos.Fingiu tentar, não encontrava…

Continue lendo

Normalidade…

Provei as palavras e o vazio dos tijolos, o deserto das ruas e a terra banhada. Provei a chuva feita das árvores que derramavam pela grama os pingos de pólen, um jeito de folha. E provei das asas dos pássaros, os passos bicados de um corvo no telhado. Gostei do peso das asas da borboleta…

Continue lendo

A criança…

A sala de costura foi improvisadamente alinhavada para modelar os trechos recortados da escrita. Na sala de costura remendei os meus pedaços e fiz a sua forma. Não era o jeito do cabelo, a doçura da pele, a calma dos olhos. Era o gesto que tinha ao deitar o rosto no meu ombro, acomodando-se no…

Continue lendo

Esquecimento – trecho

(…)Eu interroguei o mundo para saber se aquela volta até o depois do último grau de consequência, se aquela volta era para mim… Na interrogação balançava: que mundo? onde está ou onde é? qual mundo? que mundo é? Na minha interrogação pendurava-se o oco embrulho de um resquício brilhoso de lágrima parada em olhos movediços…

Continue lendo

Casa na árvore, girassóis nas mãos…

Quando abrir os portões: aprender a costurar, casar vestindo azul, pintar um quarto, pendurar os quadros, as paredes, as cadeiras. Pintar as linhas, as entrelinhas, pintar as fissuras, a reinvenção das cores dos olhos, o leito das letras e as curvas do mar.Quando abrir o portão: preparar café, contar as colheradas, sentir na boca o…

Continue lendo