Esquecimento – trecho

(...)

Eu interroguei o mundo para saber se aquela volta até o depois do último grau de consequência, se aquela volta era para mim… Na interrogação balançava: que mundo? onde está ou onde é? qual mundo? que mundo é? Na minha interrogação pendurava-se o oco embrulho de um resquício brilhoso de lágrima parada em olhos movediços da réstia do espelho. Que mundo? O depois do limite do até a última consequência… O depois… reassentado num lugar nunca mais... O depois é melhor… Mesmo quando o agora já seja o que ainda não sei. Mas não se trata de saber...


Abracei o livro que embalava no colo… Abracei a árvore e os pássaros. Abracei os livros que me abraçavam alisando os fios irregulares do cabelo, fazendo cócegas nas minhas costas, me colocando para dormir num ninho embalado no vento. Me inventando em casa que por todas as horas falta. Não faltava nada. Falta era minha falta. 

No embalo do silêncio vento eu fui amada. Foi por um único segundo e o estado inteiro de silêncio.

Escorei o rosto no parapeito da janela como um cão cansado do nada parado. Olhava para os pássaros que só cantavam, não existiam. Não havia forma, pena, sangue, os ossos leves de papel. Não sabia quais eram as árvores reais, se aquelas que o pincel inventou com água no papel ou as que estavam ali paradas presas ao vidro depois da sala. Paradas não soavam reais… Escorei o rosto na mesa, um vidro frio, o gosto duro… A vida é uma ilusão e é tão bela… 

E o lugar fugido… O gato no telhado, dormindo… Dorme… A vida é uma lembrança de  mãe que todas as noites confere como um filho dorme, como respira um filho que dorme.
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05/04/2020
06/04/2020
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09/04/2020