De tarde tentei lembrar como fiquei sabendo sobre a Confraria Vermelha, talvez tenha sido numa dessas andanças digitais que começam não sei onde e vão pra não sei que lugar. Acontece que as vezes acabo achando um bom lugar.
Achei a Confraria Vermelha – Livraria de mulheres.
Na primeiro sábado de sol apanhei o comboio e fui em busca de uma preciosidade no Porto. E num cantinho descida de rua estava um quadrado de concreto borbulhando ideias de mulheres. Nas paredes os livros, as artes, os versos, as cores… Muitos mundos. Todos construídos por mulheres.
Lá, ao atravessar a porta alguém sorriu, disse para entrar, falou de livros, de rodas de leituras, de conversas que querem chegar em outros ouvidos para dizer da força da escrita das mulheres.
Numa tarde de sábado na Confraria Vermelha ouvi ,entre livros que me passaram pelas mãos, sobre a importância de Una Donna (Sibila Aleramo), a intensidade de Joan Didion e a força de Little Women (Louisa May Alcott).
E outra vez por uma mulher conheci outras mulheres. Escritoras…
Na Confraria Vermelha não há vendedores querendo saber se você vai levar o livro ou não. Há uma mulher chamando outra mulher por companheira. Tem espaço para tomar um copo de água, para sentar e amamentar, para descansar os olhos nos livros, nas frases, nos trechos, nos rostos de fotografias. Na livraria tem uma biblioteca de livro que vão e voltam.
Talvez eu perceba esse lugar como um templo, um abrigo (que ninguém me saiba abrigada), um biblioteca abandonada, um esconderijo. Pode ser tudo isso ou nada… Talvez possa parecer quase uma ideia romântica de um lugar escrito na miragem. Eu gostei daquele canto…
Na confraria Vermelha eu voltei, mesmo que em passagem rápida, mesmo sendo terça-feira e chovesse aos cântaros, mesmo estando fechada – eu esperei. Eu voltei apenas por alguns minutos para estar ali cercada de vozes escritas. Vozes de mulheres que acreditaram – ou não – no que tinham nas mãos. Mas que de qualquer forma, com o que tinham foram incapazes de não transformar qualquer pedaço despedaçado de mundo, seja no tempo delas, seja no meu…