Hoje resolvi contar sobre um texto que escrevi há uns anos atrás no mestrado, como trabalho final da disciplina de Ecofeminismo. E que foi intitulado O cotidiano: uma crônica sobre a sutileza da opressão do feminino.
Com o modo que só a Carol (que ministrava a disciplina) tinha de dar aula e o jeito para fazer diferente, ela havia liberado os alunos para que escrevessem não necessariamente um artigo científico, mas um ensaio, um conto, um texto livre dentro do que havíamos tratado naquele semestre.
Abro um parênteses para o que estou sentindo: Sinto falta da Carol todos os dias e quase todos os dias pego-me conversando com ela. Carol foi também minha orientadora, Carol é a minha amiga que teve que viajar cedo demais. Foi com ela que aprendi sobre feminismo, com ela tive conversas sem fim sobre ganhar o pão, literatura, música, arte, quadrinhos e a porra da buceta é minha – a música, sabe?
Naquele semestre, a Carol no seu jeito não convencional de ser professora me instigou a escrever um conto – uma tentativa de conto. Na altura eu estava lendo A política sexual da carne (Carol J. Adams) e não sei por qual motivo estava sendo confrontada com os relatos de violência contra mulheres nos trotes acadêmicos em várias universidades do Brasil. Parti daí para arriscar um texto literário que levasse a mim mesma a pensar certa relação entre a opressão entre mulheres e animais não humanos. Isso foi lá em 2014, eu estava afastada de mim e certamente não tinha a quase fluência que tenho hoje para ser o jeito eu de escrever. Mas a Carol deu-me a chance de tentar.
Lembro que parte do texto escrevi da sacada da casa dos meus pais, diante do verde das árvores. Havia ali um primeiro suspiro, no traçado inseguro de letras pontuadas em teclas. Estava ali o movimento de pensar e sentir uma dinâmica de opressão. Eu que sempre escrevi mal – e continuo – o texto acadêmico, estava livre insinuando-me para mim mesma desencaixada (sempre). Ali andei eu no desconhecido do desconhecido de ser eu.
Neste texto tentei demonstrar a sutileza da opressão que tão violentamente aproxima mulheres e animais, sujeitos coisificados. E que está disponível no e-book Contornos de opressão: história passada e presente das mulheres, organizado pelas professoras Ana Maria Paim Camardelo, Caroline Ferri, Mara de Oliveira. Ao todo são oito textos que elaboram questões que circundam a opressão contra mulheres.
Não entro no mérito da qualidade do texto que escrevi, o que importa é que através dele pude questionar-me sobre. E pode ser que ajude outras pessoas a questionar o enlace que há entre formas de opressão e que estão expostas em cada um dos textos que participam do livro.
Link de acesso para Contornos de opressão [recurso eletrônico]: história passada e presente das mulheres / org. Ana Maria Paim Camardelo, Caroline Ferri, Mara de Oliveira. – Caxias do Sul, RS: Educs, 2016: https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/ebook-contornos_2.pdf
Nos vemos por aí.