Girasole

Contando histórias a partir da comida.

Há muito tempo venho pensando em criar um espaço para conversar sobre o que significa – para mim – a comida e toda a vivência vegana (que vai além da alimentação), mas que não se ativesse unicamente em postar receitas ou dar dicas sobre alimentação saudável e nutrição. Explico: Nas redes há vários perfis que fazem isso muito bem, pessoas que se dedicam em testar e trazer receitas e conteúdos inéditos, que desenvolvem um trabalho com respeito as autorias e as referências alheias que usam (aliás quando postar receitas aqui farei as devidas referências caso não sejam pratos meus, começando pela minha mamma).  Além disso, estive resistente em criar este espaço pelo simples fato de que não gosto da dinâmica preponderante das redes sociais e nem da exposição, por isso o que farei aqui seguirá uma dinâmica própria, indo no meu ritmo.

Assim, embora eu já tivesse um ideia de como seria o meu jeito – particular e único – de falar sobre, ontem enquanto caminhava pela cidade soprou algo mais forte, algo imediato que me arrastou a guardar na memória um nome ao que vem a contar histórias através da comida. Porque a verdade é que estou cercada de histórias, de tantos bons momentos que me foram proporcionados pelo veganismo, trechos não escritos que me reportam à infância, à brincadeiras, para momentos e memórias que de repente reencontro por aí, num lugar outro, num cheiro, numa referência ou recordação que pula, que vira assunto, que ganha outra referência. Prova disso é que, de volta a Portugal, depois de um tempo longe, fui reconhecida nos lugares que costumava frequentar e que são basicamente, lojas de produtos naturais e no mercado municipal. São nestes lugares que estabeleço vínculos, não só com as pessoas, mas com os próprios alimentos – o pão, as frutas, as verduras – que são colocados nas minhas mãos. 

Além disso, outras conversas serão aqui compartilhadas, entre elas a de como está sendo ajudar uma amiga a fazer a transição para o vegetarianismo e de como, para mim, o amor é um bom caminho para ajudar outras pessoas a compreender a escolha por uma alimentação consciente e sem sofrimento. 

Girasole é a primeira linha para um vislumbre contado como futuro de um dia talvez ouvir essas histórias com um pedaço de bolo e um xícara de café na mesa.

Por agora, enquanto Girasole engatinha, será  parte do blog Daísa Rossetto. Aqui começo a criar uma cozinha onde quem chega puxa a cadeira e fica mais perto do fogão quente. E entre aromas e panelas ouve e conta histórias de comidas, as mais variadas – muitas engraçadas, outras dramáticas.

A história que escrevo aqui é da minha própria experiência e das leituras que tenho feito nos últimos 10 anos, quando comecei a tomar consciência sobre a vida animal, as condições de trabalho e as questões ambientais. Mas vai além disso, porque a jornada que tenho feito me reconecta com a história de lugares e de pessoas, me aproxima de referências afetivas e, consequentemente, me faz perceber melhor como damos e recebemos carinho através do que colocamos no prato.

Ainda, algumas comidas contarão sobre como a vida sem um lugar fixo e com limitação de recursos, de aparatos e instrumentos de cozinha me tornaram mais criativa para adaptar, criar e descobrir novas misturas e novos sabores – aparentemente inusitados e improváveis. Tal desprendimento e capacidade de adaptação se deve ao veganismo no qual acredito e que cotidianamente me mostra como pode ser simples e colorido comer e viver. 

Por agora é isso,  nos vemos na próxima história.

Campos de girassóis – Toscana, julho 2019