Era quase…

Em qual hoje fechar os olhos?
Quando desmorona o mundo sentido no buraco da alma.
Tudo tudo desmoronando agora.
Passou.
Vira pó e nada, nada sai do lugar…

E onde meter a frase seguinte? Nova linha, ponto, seguir em frente, parágrafo…
Onde descansa a linha do infinito? Beijo na nuca, meu corpo ausente, a boca do lobo. 
Ausente.
Isolada ilha, confins da história…

O enxame de mim contra a conta da métrica, a régua, a letra colada num banco, num gabinete. Meu dilema sem matemática contra o número vertido em conceito…

Eu mexo 
as Peças
do Universo

Eu (des)encaixo
Um texto
Contexto
Meu corpo
Meu rompimento
Meus rompimentos todos
Continuações seguintes.

Eu não encaixo
Meu lábio,
Braços gelados.
Letras riscadas em pintas
alinhavadas
Nas costas
Nos rastros
das veias.
Eu não encaixo
os dedos
das mãos.
Meus dedos molhados
Na ponta dos laços desalinhados aos pingos, respingos, resquícios, indícios,
Destino
O céu.

(Des)
Encaixo
(Des)
Comprometo
(des)
Cabida.
A
Dizer por não dizer
E
Inventar um jogo sussurrado de palavras
Que confundindo não arriscam
Dizer.

Eu sussurro um gozo
dentro
lento
que faz doer.

Eu apanhei.
Dizer o que?
Eu não fumei.
Eu apanhei do chão o som dos ratos
dos vasos
dos galhos,
o seco som
do outono não alterado.
Ainda.

Eu não sussurrei nada além…
No ouvido de alguém.
Ninguém...

Eu costurei as minhas calças
Eu cortei as camisetas
Eu rasguei…
O que foi que eu rasguei?

Era ainda segunda-feira.
E quem se importa?
São dias da semana.

Era segunda-feira
eu escrevia uma história
sem início
sem fim
sem capítulo
sem filosofia
sem entender
sem enredo.
Eu não sei se dava para sentir.
Eu escrevi.
Era segunda-feira.

Tudo que poderia ser feito numa segunda-feira
Eu escrevi.
Na primeira pessoa da segunda-feira.
Tudo que eu poderia fazer outra vez era escrever
e deixar boiar nesse oceano de geleiras derretendo a imensidão sem fim desse mar de dentro. Sentido… Sem deixar de sentir.

No dizer não dito
Escrevo.
Esse mundo que não inventa
Esse universo que me inventa
Que - me - sobrevive na realidade
Que aguenta
Aguenta um pouco mais.
Aguenta
A saga sem fim.

Desse plano
Esse mundo de fim.
Início
Dinheiro
e Fim…

Esse emaranhado de coisas que digo para mim...

Essa brincadeira de prêmio
The best
vitrine
chafariz.

A espera...

Escorre sangue do nariz.
Na banheira branca
Corre o sangue
caído do nariz.
Nas pernas nada sangra.

Fugiu
fugido 
Foge o rastro 
De dizer
montado, recortado, colado, carimbado
numa palavra
numa frase de vitrine
na cara de óculos
em prêmio do ano.

Era segunda-feira pronunciada num ‘dia lindo’. Um dia na conta da semana.
Que passou....
Foi...
Sete dias.

E quantas horas do tempo de quem calculava?

Ausente,

Minha língua na tua língua.
Meu corpo amarrotado, vago, vazio. 
Vagando.
Só…

Senso é não entender.
Mas demora…
Demora.
De-mo-ra
Até entender
Que não dá pra entender.
“Sente”
‘sente-se aqui e escreva’
o que ninguém poderá ouvir.
Escreve
E só…
Quando…

Na estação ninguém vai esperar,
No sofá eu sinto frio.
Da janela não vejo ninguém.
Leste...
E a rachadura infinita dos meus lábios trincados
Quando o vento vencer minhas margens ocas,
Virá pela primeira vez
um sintoma pela metade.

Até aqui,
Na margem, 
Um muro de cabras vivendo num canto de cidade. 
Olham quando passam...
Os carros parados.
Calados.
E que coisa come uma cabra?
Folhas de um jardim…
E as bagunçadas folhas brancas
deixadas…
Como...

Um dia 
Depois de outro dia
Até não entender 
Até deixar
de Lutar contra
de brigar
E não matar
Quem não quer morrer.
Como se não fosse possível viver para sempre.

E se não pudesse dizer…
A cada novo amor
A cada velho amor...
Se pudesse olhar
Na rua de outros olhos...
Se pudesse
Esperar o tempo de secar o rosto no lençol anterior.
O imprevisível de uma história
- conto breve - 
que
Acontece(rá) ali
Nas margens
Da calçada
até o supermercado. 
O extraordinário.

E se não fosse
o emaranhado de palavras
em palavras
antes de palavras
depois de...
até algum sentido
que parou de ser sentido
centímetro fora de centímetro

Vuota
Sono vuota...
Do fim até o início
Em que (Escrevo)
Para as mortes que não querem morrem.
Que não se importam em não morrer.

Ma oggi
Ieri
Domani non lo so
Oggi sono vuota
Da sola.

Um caminho só.
Pés no ar...
Não existe nada
segurando a mão...
A mãe que engancha o braço.

E o céu o sol
A manhã e o telefone que desmoronou…

Tudo por terra
A terra na terra de pontos cardeais
A terra desfeita numa bola de neve
Arremessada numa letra presa no teclado
Na tecla de um instrumento musical
Um livro que fugiu no título
A memória de ouvir dizendo
Anota,
Anota,
A nota…
Toma nota do riso
da pele
das unhas longas e tortas.
Faz nota de tudo que nota
sem que nada se nota
No ar 
No tempo
de quem Vem
De quem vem e nunca
Nunca
Nunca mais vai…
Vem…

Por hora papel nenhum parou na caixa do correio além das propagandas do supermercado.
Canção nenhuma alcançou os passos rostos que não se encontram ao olhar.

Fui eu.

Fui eu que costurei as margens de uma calça larga demais, grande demais num corpo que dizem, falta.
No corpo instrumento que não toca.

Fui eu.

Eu confundi estrelas com aviões em movimento.
Abandonei uma cadeira no meio do jardim, peça cenário para as tartarugas,
Perdi meus olhos entre luzes de salas e ruas onde passam cães.

Nada por concluir
Foi quase uma falta… No corpo arrepiado
No frio da noite
Numa sala de balé…
Um corpo arrepiado
Arredio…
Um rosto
Que não aceitou a imposição de mãos impiedosas...
Um rosto arredio.
Olhos esquivados.
Um arrepio correndo no corpo.
Uma vontade dormente.
Uma vontade
De encaixotar filosofias desviadas
Discursos montados em paredes
carimbos com cara de gente.

Falemos da pele, das manchas
Do sangue
Onde borbulham quentes fragilidades e intuições
Mundos fundos fluidos
Mudos como não devem ser…

Quando 
na folha joguei as palavras em branco
estava em azul o silêncio…
...Que não terminou a frase.

Era quase um poema
Quase uma frase
Uma prosa.

Era quase um poema
Que falava…
Que falava…
Era quase…

07/10/2019