Enquanto lê o conto da semana

Lê um conto. Daqueles que chegam uma vez por semana. No meio da leitura, enquanto os olhos correm da esquerda para a direita, escreve um conto que não escreve. Espera pelo fim (do conto).

Aí vai crescendo em letras erradas aquela ânsia — meio vômito meio choro — não anunciada num “quero minha mãe” criança da pré-escola, adulto que não sabe como chegou ali.

Ele escuta a música (ele poderia bem ser ela). E a música é de um tempo antes dele. Sucesso nos anos 80.

E nas rimas melosas ele sonha com o café da manhã na outra casa. Outro país. Num outro jeito de nascer dia. Noutras palavras que ficaram ditadas na boca e que as regras do idioma recriminam.

“De onde venho se diz… Se diz… Como se diz?…”

Ele esquece.

E lê um livro sobre viagens de trem, tomando da memória os trilhos corridos na sexta-feira que passou. E os olhos demoram nas pedras que suportam o ferro em linha curva.

Lê o livro sobre trens. Sobre a viagem que não fez. No idioma que não sabe ler. Põe de lado a terça-feira. Presente! (10:23 da manhã de fevereiro)

“Quero voltar…” Nem que seja a nado.

(Eu nado)

“Eu nada…”

Ele irá nadar o dia. O noturno escuro do universo que se abre depois do céu. Pulando de estrela em estrela ele vai tomar café preto e comer pão com melado na casa da manhã de céu nublado.

Casa de mãe. Casa de pai e mãe…

São manhãs tecidas em silêncios em que os pássaros não estão ao pé da sacada. Talvez na terça-feira não possam cantar – já não – enquanto ele lê o conto que recebeu por e-mail.

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