On the road…

Presta atenção! Do lado de fora são os barulhos de carros freando desatentos e buzinas acordando os distraídos, polícia girando sirenes que dão medo. Do lado de fora tem a notícia da política todos os dias, bolsa cai, bolsa sobe. Cinco dias por semana o mesmo trajeto, o mesmo horário, o mesmo cardápio pontualmente posto.

É do lado de dentro que o filme é feito, com cortes, tomadas e foco. Sem horário marcado para terminar e fechar a sala de exibição. Não aqui…

Na maioria das vezes, a caminhada pelas ruas da cidade durante o início do sol da manhã acontece sem a música perfeita: baixo e violino. Sem jeans descolado, óculos escuros moda retrô.

A fotografia é de qualidade nenhuma, perco a densa tonalidade do sol quando desce dormindo. Qualquer coisa desbotada de uma cena única do mundo, ninguém se deu conta, tornou-se segredo. E as cenas de um filme visto no cinema, ficam lá, hipoteticamente reproduzíveis, um engano que proíbe até os minutos de um curta, um clip estilo vintage.

Sem troco bastante nos bolsos da calça, eu não tenho um carro antigo para sair por aí, pelas rodovias de linha reta… On the road…

A máquina de escrever ficou abandonada num canto da casa durante a viagem e no fim das contas — prós e contras — restaram uma caneta e um pedaço de papel, uma folha para usar o inverso.

E tudo bastou, e o pôr do sol continuou sendo confiado a mim, e o nascer foi o presente quando visto e a trilha sonora que as ruas da cidade não tocam quando transgrido a calçada e vou pela via dos carros, canto eu mesma enquanto vem passo depois de passo. Meus olhos diante do mundo são as melhores lentes que tenho, mesmo quando, sem óculos de grau, vislumbro tudo como pintura impressionista, obra-prima em museu aberto e gratuito.

On the road, eu estou. Eu estou no lugar, eu estou para dentro de um filme inatamente criado para agora e para depois. Eu estou fazendo o caminho para mim. E preste atenção! Não se trata de eu, eu, eu, numa síndrome narcísica, — mas talvez se trate — porque eu só existo em mim e numa tal realidade que apenas esses dois olhos tortos e assimétricos podem tocar com a ponta de um lápis sem ponta.

Presta atenção! Eu estou na estrada sem carro, cômoda, tenho a direção nas mãos.

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