Casa amarela

Na rua onde moro existe uma casa esquecida pelo tempo…

Ela é cercada por um pequeno muro de tijolos antigos que está sob uma cerca baixa, de ferro, pintada de branco.

Na rua onde moro, existia uma casa. Sua base era feita de tijolos compactos que davam sustentação às madeiras largas, grossas e densas. Essas madeiras foram pintadas em tom de amarelo claro. Agora já está velha, manchada pelo sol e pela chuva.

A casa antiga, da minha rua, tinha janelas brancas e vidros engordurados pela sujeira. Um telhado de telhas que começaram, também elas, a serem vítimas do tempo, mas que pareciam ter sido colocadas, calmamente, uma a uma, como num mosaico.

No entanto, a casa antiga, ou a antiga casa, quase não existe mais. Foi, aos poucos, sendo arrancada, restando pedaços de um esqueleto, pedaços de uma história que eu invento, pedaços de histórias que outros guardarão para si.

As paredes tornaram-se tábuas de madeira, empilhadas umas sob as outras, estão num canto da casa que não é mais casa. Penso se, de repente, os pregos já estão enferrujados…

Perco meu olhar sobre ela, pensando no que irá acontecer ali… e num instante quase temo com o que virá: estruturas prontas, paredes em cores obedecendo tendência, portão de vidro, fotos de revistas, jardins projetados.

Tento imaginar e quase me preocupo, pois talvez, no futuro, enquanto o tempo continuar a dança, eu fique perdida buscando na memória, tentando reconhecer o que haveria ali, antes…

E então, talvez eu lembre, vagamente, qualquer coisa daquela casa amarela, frágil. E talvez eu ainda recorde do jasmim que no inverno perdia as folhas e no início da primavera surgia em flores brancas, exalando cheiro, respirando vida, transbordando a vida cercada pelo asfalto, numa rua onde passam carros acelerados e onde havia uma casa amarela de porta e janelas que emperravam. A casa que eu passava pela frente e me perguntava se havia alguém morando ali.

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