Struffoli

Levei mais tempo do que pretendia para escrever no Girasole, mas uma hora a história chega e a comida vai dando cheiro na cozinha. Vim falar de um prato que deixou de fazer parte da minha alimentação quando me tornei vegana (embora minha mãe já tenha criado uma versão vegana), mas que continua sendo revivido na nostalgia das lembranças das festa de infância, está na mesa, junto aos docinhos, como lembrança não fugida das fotografias. 

Quase toda vez que estou com a minha mãe acabamos chegando em alguma conversa assim “lembra daquele bolo que a Sofia fazia nas festas juninas…”, “e os doces de não sei quem…”. Ou então, “… lembra mãe, que tu fazia…”, “…faz pé de moleque que o Matheus vem aqui”. E nessas, “…mãe você nunca mais fez struffoli?”.

Foi assim que acabei comentando que o meu amigo cozinheiro, embora esperto e amante da culinária italiana, nunca tinha provado o tal doce que eu tanto falava e contava história. Acho que isso açucarou a curiosidade da minha mãe que resolveu, mesmo eu dizendo que não precisava, afinal dá trabalho, fazer struffoli. E eu resistente me senti feliz pela projeção de já no ato de estar ela fazendo, dividir com alguém – que compreende a comida como arte, como emoção e vida e que é tão querido para mim -, não somente o doce, mas uma lembrança adocicada.

Segundo o google, Struffoli é um doce tipicamente napolitano. 

De um pouquinho disso e um pouquinho daquilo, no modo de fazer da minha mãe… Struffoli são bolinhas de massa doce frita, misturadas numa calda de mel. Depois é adicionado amendoim torrado e triturado (acho que na receita original não vai amendoim, mas o struffoli da mãe é assim). Quando pronto, minha mãe distribui numa assadeira e deixa descansar. Na manhã de domingo, depois de uma beliscadinha noturno da minha mamma, enquanto eu terminava um trabalho de fotografia, ela cortou em pequenos quadradinhos. 

Nas festinhas de aniversário aqui em casa sempre tinha struffoli, na altura eu lembro que procurava os pedaços que mais tinham amendoim, era o que gostava.

Muitas vezes perguntei para amigos italianos se eles conheciam o tal doce, quase ninguém conhecia. Mas o Mimo, amigo napolitano, confirmou ser este sim um doce típico de Nápoles. Uma das características da culinária napolitana são justamente os preparados fritos.

Numa noite de sábado fria, depois de uma tarde em que minha mãe preparou e fritou as bolinhas enquanto eu assistia aula de filosofia, juntei-me a ela para assistir a finalização do doce. Ficamos em volta do fogão lembrando das festas de infância, das vezes em que ela preparou e quem também preparava. Conjecturamos se, o doce, agradaria quem provaria pela primeira vez. Minha mãe lamentou que eu já não o comesse. Eu não, alimento-me das lembranças vividas e da sensação de dividir com alguém as doces memórias feitas pelas mãos da mamma.

Não provei os struffoli, mas imagino que devem estar deliciosos, sei do carinho que a mãe usou na receita.