Nos varais…

Ela acha que as fotos bonitas são aquelas com as caras empacotadas em tintas e pó, o cabelo puxado, o riso montado, os fundos bem amarrados.

Eu… que fotografias foram aquelas em que houve acaso, o inesperado, um ímpeto... Quando houve pássaros, árvores e houve silêncio e um dia bordado em atores assumidos em seus papéis, suas frases decoradas movimentando os varais. Quando eles vestiam as vestes pingando, cortinas da cena treinada ecoando os passos no ritmo do palco cotidiano. O teatro do improviso, a vida num ato.

Nos talhos das mãos, os personagens assumidos em seus lugares. Aos toques, as frases sentidas no timbre da garganta seca, nas ranhuras do tablado, a terra dura. Os pássaros sussurrando assistem do alto.

Eu que vou lendo histórias nos varais, de repente… De repente, sem ser chamada, escondida na sombra, assisto o enredo sendo montado. Entre cortinas puxadas, vi quem dava luz ao movimento. 

No fim não houve aplausos, as luzes não se acenderam. A peça continuou num contínuo sem começo e sem fim… Ela agarrou pelos braços seus personagens e figurinos. Fechei a lente. Eles seguiram até o próximo ato…


03.06.23
04.06.23