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Os ares são mais de cores suaves. A leveza funda-me, afunda - sou eu mergulho na rocha, na areia, na pedra, na nuvem, no algodão no pescoço, no gosto de boca, na doce ânsia de ter a vida nas mãos e soltar. É o voo sem cabimento, eu desse coração regente, regido de vento, vida, fechar os olhos e olhar distraidamente o que não entra na falta de tempo. Vivo e o que me respira é sem memória, sem despertar. Vida que dança o passatempo que brinca de ser gente no bicho, de ser mais bicho que a forma da gente.
Quase me conheço. É que tenho esse voar que não faz dinheiro, guerra, notícia ou marca - não é de comprar -, não tem carteira, carreira ou correria. É sem sucesso, progressão, sem destino, sem des-aviso, responsabilidade, certa certeza, depressão. Má motorista, eu gargalho contramão. É que não desisto e tenho rido dessa falta brincadeira social-idade-realidade de fotografia ensaiada nos dentes legendados e i-mantidos. Descabelar meu tropeço é intenção (minha) de vida e nascimento. A calça está furada, a blusa remendada, ‘minha’ pele move-se abstrata macia maçã.
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23.04.21