Sopa de passatempo – trecho

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No que existiu soprando respirei-me pássaro sem asas, que sobrevoa o mergulho ao nada e então sonha... O pássaro de sonho alcança da memória o passar do tempo que balança na colher de sopa. Assopra passatempo… Cata-vento, vulcão de um pássaro que não tem bicar para dizer o que é.

E o passar do tempo a quem se encontra, a quem fecha os olhos… Quem voa e quem assiste o voar do tempo passando ao passar do tempo. Lembrança… Como colheres que batem no prato e o que ressoa é riso soprando lembrança no pássaro que não existe, voa.

Me esvaí, andante de chuva que estendeu os braços e deslizou sem alcançar o chão.    

Permanecia-me a memória, sopa de passatempo. Sem radar, não passava dali, estática. E no entanto, sem ir e vir o tempo sopra. Indo e vindo e sendo memória de ar que voa passatempo. E a memória sem memória para ficar, quase se agarra às luzes sinalizadoras, aos trechos e trilhos do passatempo. O passar do tempo passante. Para onde...

É melhor que não escreva agora, nem o agora.
É melhor que não me escreva enquanto…
Alguma coisa não passa,
Enquanto o tempo vai embora.

(...)


28.01.21