Trecho: Tristeza

(…)

(me) des-acalma.

Acalma(-se).

Escreve (escrevo) como única certeza. Única verdade. Não é a única possibilidade. É a única possibilidade. Porque mesmo que o mundo acabe, mesmo que tudo se desfaça, mesmo que os livros e as notas coloridas de preço nunca cheguem. Mesmo se nada, nada, nada, nada nunca acontecer. Mesmo que nada nunca aconteça. Escreve. E a tristeza que está aqui acomoda acolhida. E sem pedir nada em troca aceita que pode ser sempre o nada. Pode ser que nada aconteça.

Pode ser que não se esqueça de se perder e esquecer… Esquecer-se para além do nada, no só aqui agora, na sensação morna, no sopro lento, no canto silêncio.

(Uma tristeza mora em mim)

Tem uma xícara de chá na mesa. Um prato por lavar. Um resto de café. Um rosto adormecido pela manhã. Um estalo no portão… Um outro jeito de viver. Um jeito outro de viver. Não há…

(Umas ou) uma verdade que ajeita na cadeira e aquieta a incerteza do espelho preso na parede esquerda, do quarteirão inteiro onde ninguém conhece o nome que tem registrado nem o idioma das mãos. 

Tem uma tristeza que não é triste e não é doença. Não é medicada nem analisada. Uma tristeza natural, nascida junto, vinda antes do início, dentro. Qualquer vestígio esfumado na cara, no andar, no olhar atrasado…

Existe uma tristeza lenta e distraída, acalmada acalmando o domingo, o tardar do domingo em que cada palavra experimenta uma outra forma de ditar. Em que palavras experimentam uma outra delas mesmas e se descobrem descobrindo o eu de si. Deixam pra lá os carimbos e as definições. Se escrevem. Redescobrem quem são ou a quem se deixam ser como liberdade de amar sem registro, sem timbro, só amar. A liberdade de desconhecer a profundidade de cada volta de uma letra (re)colocada nas curvas de uma tristeza nata.

Às vezes beiram a extinção, perdidas, raras, vagas… Só as vezes fingem que se afastam. São como são, quebradas e sopradas para fora de estruturas pré-fabricadas dos que acreditam que escolhem o dia que por si só se escolheu.

Derrubaram-se manifestos e tratados. Ninguém é obrigado a obrigação de ser feliz. Não aqui… Não elas. Não ela. Não eu…

(…)