as cores das fitas embalando o vento, coloridas, as bandeirinhas para lá e pra cá… os horários marcados deixados para estar, passar-se ao lado, desobrigar, se perder e esquecer tudo que há… andar, andar trôpega entre pedras secas molhadas, pedras caminhadas em patas, pés, passos, ritmos, copos, ritos, pedras poetizadas… chegar antes de estar pronta, reparar nas caixas... estar sentada nas proximidades de quem, um dia antes, vendia na rua, xilogravuras… ver a maré chegar, adentrar a cidade, desenvolver o atravessar… travessa travessa travessia, viajar-se de estar até a maré recuar… por ali ver a voz da Patricia P.… derrubar os olhos num trecho de palmeira balançando sobre um telhado, quando uma meia multidão aponta telas para a sonoridade da Adriana C.… sentir sua voz e lembrar dela num palco de coimbra, falando de oiticica… a inexatidão dos troncos permeados… Caetano G. dando aula sobre a suposta língua, camões e joyce e a desmedida esfera da língua na linguagem… por acaso velhos conhecidos do outro lado reencontrei… o Moa sentado na grama ou na calçada, calçado, bebendo uma cerveja, reparando, recolhendo fatos, casos, sorrindo, encaixando os óculos do sol se abrindo… uma florzinha cor de laranja que ganhei de um menino tímido e que carreguei comigo no bolso do peito da jardineira… uma conversa na janela com alguém que se chama Letícia… um coletivo de escritoras de origens asiáticas, que me fez pensar na Peilin, lembrar dela, imaginar ela ali… horas não perdidas por assinaturas por ficar com a assinatura das páginas pingadas na tinta de pretas pedra… Perder o show da Estrela, mas ouvi-la mencionando a poética musical do pai, da casa chamando a mãe e ao lado dela um violão misturado, baixo, com os restos altos do som aberto… um cartaz com um poema que será pendurado na parede do quarto… ouvir o mar antes de dormir… ouvir o mar antes de abrir os olhos, o mar misturado com o canto dos pássaros desenhando nos sonhos a medida do sol refazendo o rastro da manhã no resto da noite… o lindo cabelo da Alice R., branco, bem cortado… ela sentada alí, nas margens do sol do primeiro dia, em seu timbre de tanta história, tanto haikai vivido vivo… a distância ao lado, passando por acaso… um banco qualquer, sentar no chão, querer sentir a grama na mão… o bom trabalho desejado para o guarda sorridente da livraria… a mensagem do Moa dizendo vem e do outro lado, lá fora da programação, o Gustavo com o microfone na mão folheando invenções mirabolantes, um gole depois do próximo… um gole de cerveja, mais um gole de vermute, a taça acrílica do vinho borbulhante, as infindáveis garrafas de água com gás. as empanadas e as esfirras partilhadas, um pedaço de pão de melaço, o pão de fermentação, a mochila pesada com as salvadoras maçãs. o giro da cabeça para passear com o cão que passeia pelo corredor de gente que escuta a primeira mesa da sexta-feira… o dormir de outro cão durante a mesa da tarde da mesma sexta-feira e o gato dormindo na janela e outro gato sonolento sentado numa outra janela, conversando com bonecas… conversar com a senhora do carrinho de bebidas que sente frio e procura a garrafa de água numa piscina de gelo, e de tanto frio no fim da tarde guarda a cabeça no capuz amarrado… uma livreira mediando mesa no palco principal… uma réstia de flores ao fim da tarde… de passagem a garota que, sentada num degrau, curva-se ao caderninho… logo cedo, manhã de sábado, um casal bebendo mate… ouvir, enxergar, parar no povo de rosto pintado, as crianças, as penas, os desenhos, as cores das miçangas, a música num pé descalço, os girados ritmos aos deuses, a natureza. A língua no canto ali cantado, a língua na língua sem festa… a tradução da língua ali. a língua ali ser levada a pensar mais do que o pensado pensar a não escrita, a não publicada, a língua despadronizada das tantas línguas voadas, vozes vocalizadas, deslocadas… a língua na origem da origem dos pés descalços, a linguagem que continua, que não se registra nos dias carimbados dos dias que cabem em número de páginas e na pensada pensadora língua de brochuras e capas, a língua que determina os dias e as datas… mãos e bocas que, reparo, mastigam agora pão francês… a antropofagia… ouvir, enxergar… ouvir, enxergar fazer silêncio… voltar um dia antes para casa dizendo tchau e obrigada… escrever no carro e enquanto o carro escorrega o asfalto, perguntar sobre como estarão as plantas e as flores, como elas estão… estar em tudo, a todo o instante e para além do que, de nome, nomeada foi literatura. recolher a poética da vida… recolher como o vidro quebrado, no domingo de manhã, a vida e a poética - muitas vezes trágica, ainda sem nome e sem linguagem… ouvir, enxergar, ouvir, enxergar, pertencer e não pertencer, fazer silêncio… RJ - 02-03.08.25