Da agitação que encontrara nas ruas - as paradas de ônibus lotadas e gente entrando aos amassos de passos mais acelerados, atravessando ruas entre carros, correndo e tudo passando ainda mais apurado que o normal, as sirenes, as conversas trocadas entre calçadas, - entendi o que estava acontecendo, quando no girar da chave na porta o telefone vibrou com a mensagem perguntando como estava e se estava em casa. Já não era prestes a, estava acontecendo… Não era o que tratavam as notícias, era o que estava no ar… Das ruas na rua tranquila que tomei no caminho de volta, o porteiro com alguém falava sobre uma guerra quase distante, do lado. Falam eles onde, mais cedo, varrem as calçadas. Deram nome às regiões da cidade. No semáforo fechado, a mulher trabalhadora justificava com o número de assaltos seu virar de cabeça para os lados, tem pressa em atravessar, enquanto passos demorados decidem se tomar café na cafeteria ou não… No agora que não existe, atravessar o que? Tudo de um todos ou tantos correndo, procurando um lar que fosse chamado de seguro e fosse casa. Mas enquanto chego em casa e fecho a porta, para onde voltam quem entrou em ônibus abarrotados? Enquanto desvio os olhos das paredes com quadros e livros, onde fecham os olhos e se encolhem quem sente o alastrado na impossibilidade de conceber a vida em outro registro? As paredes não são seguras e as portas não seguram nada, o próprio corpo se reveste capa de invisibilidade. Que se torne tão mágica que buraco nenhum ali se forme… …E quem ainda tinha que cumprir o horário do expediente, atender o cliente, carregar a criança, buscar na escola e dar o jantar, o banho no idoso, remédio ao doente. E só depois, quem sabe, tentar chegar a um lugar… onde? Num dia seguinte, sem passado nem medidas de um tempo tempo, a mulher que olha para trás e sorri num bom dia, reconta os passos na descida da rua onde ontem não desceu para voltar para casa. Dormiu ali, em algum lugar, como fizeram os estudantes… Ela deseja bom dia, um dia melhor… O que da bolha, a imaginação que se salva consegue alcançar? No fim da noite as encomendas continuam a chegar… Assusta o estalo do interfone, uma bolha se rompe no ar. A natureza responde amanhecendo esmaecendo os tons, os céus estão agitados com o rumor de helicópteros que atrapalham a circulação dos ventos e dos pássaros. Parece que os trabalhadores estão todos lá, em seus lugares, embora os ônibus que voltam às suas vias estejam quase vazios. Nos dentes em silêncio escorre… Sim, é a primeira vez, e os protocolos foram vividos na prática e por quase critério do acaso. Quem somos aqueles que estão a salvo? Quem somos aqueles que não estão? Quem são aqueles que estamos em casa, seguros, em segurança? Em segurança… O que se faz com o que não se alcança? Escreve? Pinta? Pensa? Respira sentindo mais forte a dificuldade? Seguro nas mãos as nuances da filosofia… O que estará escondido e bagunçado amanhã de manhã enquanto… Na manhã seguinte uma capa de branco cobre a cidade num lastro de até onde se pode ver… RJ - 28-29.10.25
