Do que são feitos os balões de aniversário?…

Saídos das paredes, os balões começaram a murchar. O ar escapa invisível e consistente, solta-se aos poucos e silenciosamente, como se ninguém o visse no fluxo contínuo do escritor que perdeu a dobra do tempo e continua sentado em frente à máquina de escrever.  O papel não termina nunca, as letras não terminam nunca, nem a tinta da fita, o rumor na pronúncia das letras somadas, juntadas, cativas e cativadas, pintadas.

E os balões aos poucos adormecem, adormecem com as cores arredondadas como um desenho torto de giz de cera, vão apequenando da parede à caixa de papel deixada na porta esperando a saída. Dormentes diminuem instante a instante, envelhecidos e macios, quase empoeirados, ainda amarrados num nós de dedos tramados na infância, na espera dos anos e forminhas de docinhos, enquanto o raro ar lar raro efeito desprende-se, despede-se, solta-se aos poucos no mesmo eco da expiração que tomou a esfera do látex. 

Num tempo finito de agora, cotidianamente são mirados e observados, entes aos quais se aproxima com certa cautela. Entre o estouro e a caixa da rua, os balões se desfazem entregues à sorte decidida por si.

Levá-los antes seria antecipar a explosão de expiração, a brusquidão na revoada. É desnecessário coordenar o tempo na organização do espaço. É necessário respeitar o espaço do balão, da caixa, do banco sob a caixa no tempo. Deixar que as coisas enquanto falam sejam escutadas e respeitadas no tempo que possuem de amparar a caixa, de segurar os balões, de murchar e se dissipar aos poucos. São deixadas, até que elas lembrem de que é feita a hora, quando então abrem a porta, passam pelo vão, se desfazem sem peso nem temor, fazem do rumor um verbo na saída. Fluxo do ar escrito de silêncio vivido…

Para as crianças que não batem à porta e que poderiam talvez ser crianças na esquinas da padaria, o balão é um ensejo de colorir um céu inventado na flutuação do ar que não o do pulmão. Esse balão não estica o fio que o segura na parede, de cabeça para baixo. Mas, de qualquer jeito voa, saltando a bola-ovo adormecida na gravidade, na doçura do chão…

Nem sempre a expiração é mais fácil…

Embora…

…O calor do ar respirado pra fora, disposto, em busca, entregue a leveza, o ar expirado se solta num sopro, num furo ou num estouro. E os balões em seus restos seguem, feito rosto de ruas onde um sutil vento respinga.  


RJ - setembro, 2025