É interessante pensar como algumas coisas chegam ao fim… Dizendo, seria como dizer: Acordo o sábado de manhã sentada na beira do colchão enquanto leio uma newsletter que fala sobre Borges, Ficções. Estou ao meio do texto, interrompida na leitura lente das linhas nas entrelinhas, com as ranhuras - DNA (ou ficcionalizações) -, de uma criança que não se suporta e não suporta. Engasgada, tropeçada. A casca entalada, a pele, o gole, os pilares das casas. Que se enganou esganada desenganada em si. Interrompo a leitura e acelero. Ansiosa, impaciente, intolerante ao gosto, ao palato, a trama e ao contexto. Concreto sem planta. …A pulsação vai aos berros, rosto molhado e vermelho - não cantem os parabéns. não cantem… E todos continuam batendo as palmas no ritmo das felicitações, sorrindo, enquanto faz o berredo, o pranto de boca aberta… A criança sentada, ainda de beiço, sabendo ler, aprendendo a escrever nuances de mundos e desnudos. Ainda infantil arrisca as letras com a mão avessa… algumas coisas simplesmente chegam ao fim, algumas delas nunca foram e mesmo assim… Chegam, mesmo assim, ao fim. Como se dissessem: estou cansada mas já não quero colo. Fico por aqui sem isso, sigo por ser fim de mim… Sento na margem da calçada ou do meio fio, não importa. Nos próximos dias aprendo a pedir carona, levo nada, ando feita de mim… Enquanto futuro não encontra as letras de ser, já agora desverbalizável, sem promessas nem ameaças, artimanhas manipuladas na farmácia, a pulsação no corpo empurra jorrando a sede da escrita desta frase riscada no meio das linhas do colchão no chão. As linhas das lajotas brancas das linhas de prédios altos da cidade sem linhas de árvores nas linhas asfaltadas nos buracos armazéns de água, o resto das linhas das chuvas. O coração sem linhas… Correndo em curvas e aos saltos, interrompe as linhas e anota a frase dessa criança insuportada em si que aprende a ler ali, na teimosia da criança que fecha a cara, que faz verbo birra com os discursos que compreendidos, deixa pelo caminho. Não quer levar, assim como leva a manga, as acerolas, o gosto do coco, o leite de coco passado do ponto, esse peso de estômago - talvez como a frase anunciada na cara fechada, amarrada, um nó contrário. Os sonhos pré-dizentes-dizíveis-ditos, indigestos indigentes. Implico implícitos são os seus meus não meus são. Não sã. Estão a salvo, eu não. Eu não. Brinquei de ser atriz mirim. Fui má intérprete de chafariz. Desinterpretei-me interpretada, desinteressei-me, desisto, insisti e descresci. Um pouco mais. Agora desisto. Desisti, assim. Parto barco parti. Pari-me, criança sem crença. Volto em voltas de voltarei para lá de não sei. Volto pro onde. Terra sem herança onde comecei a deixar a criança, lá ontem sem tramadas dramas, com os passos só, aprendendo a ser gente, lá estava. Lá, de fora ou fui, crescida me cresci. Não me bajule, não faça… A frase anunciação o farol luz verde. Algumas coisas chegam ao fim. Algumas sem nunca ter sido. Terço corroído, corrente rompida, o tecido rasgado no torcer, bombom comido ou dividido e a conversa tentada oca oca ecoa, o corte da carne, o tempero, o doce à venda, vende-se, a tentativa e a experiência, a farinha do pão, o saco do buraco onde vaza o rasgo da nutrição da traça… Espalho-me pelo chão molhado da chuva e espelho-me areia indomável, impegável despregável desempregada, não emprestada nem devolvida. Carregada pelo vento que muda, de repente, de rota. De repente. Sem reta. De repente... E essa criança que anunciada antes de saber trocar os pés... Os lugares, as linhas e as linhagens que não são as suas. Devolve-as agora, talvez em definitivo, para nunca mais. Ela voo embora. Essa criança, na birra e na teimosia, rompe enquanto rompida nas linhas acordadas numa manhã de implicância, com os sinais da controvérsia que a emprestam para acordar de si fora de si. Afinal, num mar que faz areia, num mar sem fim, é interessante pensar como, simplesmente, chega… fim. Como algumas coisas vão voltar para o seus recomeços, continuar onde se interromperam intromeços, onde inundaram hiatos, onde foram serena espera. A vigília, o respiro de guarda e aguarda. Existe lugar para crescer, em si... E o fim num susto. Anunciado. E o nunca mais voltar para não voltar a ser a imaturada infância, lugar de não ser. …É interessante pensar, num transcurso de criança, que algumas coisas, talvez sem nunca existir, simplesmente, chegam ao fim. Quando a criança chega ao fim, vou partir em vento mágico. Brasil, 12.07.25