[intitulável]

“(…) insistiu em tragar. Doeu fingindo o riso em cores na cara, na euforia que a cansava. Que a alcançava numa cobrança vinda em pedaço de papel somado em estreitas margens recortadas. O mundo não era seu. O portão não era seu. A sexta-feira maquiada como sempre o de sempre não era sua. O futuro e os fins de meses não eram seus. Os casamentos, os filhos, as certezas, a escolha definitiva, o salário, a rua, a casa, a chave, a roupa, o sexo no estacionamento, a linha do pedestre… Os amores antigos, futuros. Não eram seus. E não caberia ainda sentir o presente. Queria vivê-lo no âmago o mais profundo de ser tudo por um instante mesmo que findo. Desejava sonhava imaginava, mas era ainda não… passou. Viver infinitivo. Amar outra vez como nunca antes… Mas não havia presente. Vagava sem mundo, tempo, barulho… o devaneio de letras sem forma, jeito, conclusão ou objetivo, sem matéria. A quase lágrima sumida na dimensão inexistente.” (Trecho [intitulável])